No ARION

No ARION
No oceano, em 2001, viajando entre a Terceira e S.Vicente (Cabo Verde)

terça-feira, 24 de maio de 2011

O NÔJO DA POLÍTICA

O NOJO DA POLÍTICA



HELIODORO TARCÍSIO

Sou admirador das crónicas de Cláudia Cardoso (C.C.) , que leio sempre. São como flores no triste, árido e desinteressante deserto que costuma ser, geralmente, a secção de opinião do Diário Insular, com poucas exceções.
No entanto, a mudança é radical quando ela assume a sua faceta política. Isso estraga tudo. Como não posso crer que uma pessoa, obviamente inteligente, culta e sensível, acredite nas patacoadas politicamente corretas que escreve, em defesa do seu partido, só posso pensar que o faz por dever partidário, por lealdade institucional.
É um bom exemplo a sua crónica do dia 15 de Abril. Do princípio ao fim, é um discurso completamente politizado (logo sem inteligência, liberdade inteletual e espírito crítico), em que, basicamente, faz a desculpabilização do seu partido e a culpabilização dos partidos da oposição.
Ora, eu, como indivíduo absolutamente apartidário, tenho outra leitura dos acontecimentos recentes. E como tenho C.C. na conta de uma pessoa bastante inteligente, acredito que, no fundo, tenha uma leitura semelhante. É por isso que a política é a suma arte da hipocrisia.
O nosso país chegou ao estado em que está, por motivos que não são difíceis de identificar, na generalidade: má gestão ou gestão danosa, incompetente e medíocre; péssimos políticos, gestores e governantes (as melhores pessoas do país, não vão, de modo nenhum, para a política, tem mais e melhor que fazer…); incapacidade para desenvolver o país e aproveitar os muitos fundos estruturantes que vieram da CE; corrupção generalizada e construção de um sistema de aproveitamento pessoal e promoção de interesses individuais e corporativos; favorecimento dos grandes banqueiros e empresários. Os protagonistas deste filme são os governantes do PS e do PSD, que estiveram à frente dos destinos do país, depois da nossa entrada na CE. Antes disso, penso que ainda vivíamos no rescaldo do 25 de Abril e o processo de construção de uma nova sociedade era ainda primário. Isto significa que os culpados têm nomes, muitos nomes aliás, mas à cabeça têm sempre de vir os líderes, porque são eles os responsáveis máximos e os rostos das políticas adotadas. Falo, portanto, de Cavaco Silva, de Durão Barroso, de Santana Lopes (coitada da criatura…), de Guterres, de Sócrates, etc. É evidente que concordo com C.C., quando diz que a principal motivação de Passos Coelho e do PSD em geral, é a tomada do poder; os barões do partido devem ter ficado positivamente enlouquecidos com a oportunidade que vislumbraram; penso que a nobreza de conceitos e atitudes é um valor totalmente ausente da atividade política. O CDS-PP é um partido oportunista, sempre na brecha, perseguindo qualquer oportunidade de participar da gamela do poder e fazer passar as suas pobres ideias conservadoras e retrógadas. A partidos como o BE e PCP interessa a política de terra queimada, a fim de, num cenário de caos, terem oportunidade de fazer passar ideias mais radicais, estranhas a uma maioria da população portuguesa e difíceis de implementar no mundo materialista e individualista de hoje. Tudo isto é verdade e provavelmente estaremos de acordo nisso. Mas nada disto invalida que Sócrates tenha sido o governante dos últimos seis anos. Com ele e com a sua corte, a dívida pública só fez piorar. E não me venham dizer que os culpados são os funcionários públicos, isso revolta-me até à medula. Mesmo que não o digam abertamente, são sempre eles que pagam as favas. Há quanto tempo os seus ordenados estavam congelados ou tinham baixíssimos ou mesmo falsos aumentos? E há quanto tempo estavam congeladas as admissões na Função Pública? Há quantos anos estavam já em vigor pretensas medidas de racionalização de despesas no setor público? O país continuou a afundar-se, com Sócrates, apesar dos claríssimos sinais, internos e externos, de crise iminente, porque, no fim de contas, nada realmente importante, foi feito para mudar a política portuguesa, pelo contrário, continuou-se com a mesma política canibal, alimentando o sistema de corrupção e desvario, com alguma megalomania ligeiramente paranóica pelo meio. Um país onde já muita gente passa fome e revira no lixo, pode construir TGV’s? Claro não, pelo menos não antes de implementar sistemas de CPT (Comida para Todos).
Agora, sobre o início da crise atual, tenho a minha própria teoria. Atualmente, qualquer bicho careta é comentador político, porque é que eu próprio não hei-de meter a minha colherada? Para mim, é evidente que a crise foi despoletada pelo próprio PS e por Sócrates, de forma intencional, com um aparente tiro no pé, o famoso episódio de novela sul-americana, que tem o nome de PEC4. Como Sócrates não tem nada de estúpido (os políticos de topo, regra geral não são estúpidos, são é competentes mentirosos) nunca cometeria um acto de aparente suicídio político. Tudo aquilo foi muito bem arquitetado e Passos Coelho, que ainda é um bocadinho imaturo e ingénuo como político, mordeu logo o anzol. Sócrates bem sabia que o país estava a bater no fundo, que o PEC4 não seria suficiente e que, em termos de saneamento financeiro e recuperação da economia, seria preciso um tsunami pior que o do Japão. Que Passos Coelho e, de uma forma geral, a pobre opinião publica portuguesa, nunca aceitariam. Assim, tudo se está a passar como Sócrates previu, nada disto é culpa dele, é culpa da oposição, sobretudo do PSD e ele pôde então montar, coerentemente, este cómico cenário de vitimização, a que temos vindo a assistir. Com o PS a cerrar fileiras, de lágrimas nos olhos, em torno do Querido Líder (tudo com muito medo de perder o poder e as suas benesses), Sócrates surge agora travestido de Novo Herói, sem culpas, ele próprio uma vítima inocente. Chama-se a isto baralhar e dar de novo mas sem mudar de jogo, claro. Portugal tem a cabeça no cepo, os culpados são os partidos da oposição e o carrasco chama-se FMI. Que nojo tudo isto me mete…
POPEYE9700@YAHOO.COM

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