No ARION

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No oceano, em 2001, viajando entre a Terceira e S.Vicente (Cabo Verde)

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Saúde e Espiritualidade

SAÚDE E ESPIRITUALIDADE



HELIODORO TARCÍSIO


Desconfio que este artigo vai demorar ainda mais que o costume para sair. Para variar, não critico ninguém nem me envolvo numa saborosa polémica. Também não vou sair-me com gracinhas. E passo a léguas do inflamado, embora árido e desinteressante debate político, que enche páginas dos jornais e revistas no momento atual.
Desta vez, tenciono apenas partilhar o agradável momento que vivi ontem, dia 25 de Maio, quando me desloquei ao auditório da Escola de Enfermagem de Angra do Heroísmo para assistir a uma excelente conferência, proferida pelo Professor Doutor Raul Teixeira, no âmbito do tema Saúde e Espiritualidade.
Numa breve nota biográfica, o Professor Doutor Raul Teixeira é um cidadão brasileiro, de Niterói, estado do Rio de Janeiro, licenciado em Física, Mestre e Doutor em Educação. Para além disso, é um conceituado espírita e um bem conhecido médium psicógrafo, com muitos livros publicados, que foram escritos pelo seu guia espiritual, de nome Camilo. É também um dos principais mentores de uma obra de assistência social espírita, denominada “Remanso Fraterno”, que apoia, material e espiritualmente, pessoas e famílias carenciadas.
O Prof. Raul comunica facilmente, com eficácia e simpatia e possui evidentes dons de oratória, o que, em conjugação com a plena convicção que carateriza todos os divulgadores espíritas, resultou numa conferência viva e animada. Ontem, confesso que achei o primeiro quarto de hora relativamente morno, porque foi preenchido com generalidades mais ou menos óbvias. Mas depois, o conferencista foi-se animando, perante uma plateia numerosa, interessada e muito atenta. Mesmo sem terem sido feitas grandes revelações, foram abordados e explicados com a aparente simplicidade das pessoas superiores, alguns dos grandes vectores da doutrina espírita.
Infelizmente, não pude ficar para a 2.ª parte, das perguntas e respostas. Gostaria de ter colocado duas questões ao conferencista e é essa reflexão que partilho aqui hoje.
Em primeiro lugar, para mim, assim como, segundo creio, para a generalidade das pessoas, há uma aparente e manifesta injustiça no sofrimento por que passam algumas pessoas “boas” nesta vida e, muito especialmente, quando os sofredores são crianças. Nesses momentos, ficamos revoltados e não entendemos nada da infinita bondade divina e dos insondáveis desígnios de Deus. É claro que a doutrina espírita explica suficientemente este aparente paradoxo. Mas, talvez pela promiscuidade entre Espiritismo e Cristianismo que, nem sempre é benévola ou saudável, muitas vezes uma errónea ênfase é colocada nos conceitos muito caros à Igreja Católica de”culpa, castigo e expiação”. Ou seja, os inocentes sofrem porque já viveram muitas vidas antes, são seres antigos, como todos nós, que carregam muitas falhas nas suas vidas de almas imortais e eternas, que podem estar a “pagar” no presente. Efetivamente, essa impressão ficou clara ontem. Ficou no ar. Claro que não era isto exatamente que o Prof. Raul Teixeira queria dizer. Há aqui coisas a clarificar. E ele tê-lo-ia feito muito melhor que eu, sem dúvida. Os conceitos de base no Espiritismo não são de “culpa e castigo”. Isso é estranho à natureza, infinitamente justa mas também infinitamente misericordiosa de Deus. Os conceitos de “falta”, “falha” ou “erro” existem, já que todos os espíritos são criados iguais, ingénuos e puros e, como tal, ignorantes do Bem e do Mal, que têm de aprender à sua custa, num longo processo de evolução. Mas não há “castigo” nem “culpa” exatamente. Há necessidade de “reparação” e oportunidade de fazer melhor, de aprender e evoluir em cada existência que atravessamos. Quando fazemos uma maldade, provocamos um desiquilibrio na vida do Universo, que teremos, inevitavelmente, de “reparar”, mais tarde. E como voltamos, inexoravelmente, a lidar com aqueles a quem fizemos mal, desfrutamos de muitas oportunidades para “reparar” o mal feito. O modo como isso acontece pode ser misterioso e incompreensível para quem tem a nossa limitada e terrena visão. Mas é importante lembrar que, quando desencarnados, os espíritos participam ativamente da sua avaliação de desempenho e da decisão sobre a sua próxima oportunidade de reparação e de evolução. Obviamente, não temos esse conhecimento, quando encarnados mas isso é outra história…Também é fundamental entender que muitas vezes o sofrimento de uma pessoa está mais ligado à evolução de outras do que às necessidades dela própria. Reconheço que nada disto é simples, pelo contrário é extraordinariamente complexo.
A segunda observação tem a ver com a psicografia, fenómeno pelo qual tenho o maior respeito. Não tive ainda o prazer de ler algo psicografado pelo Prof. Raul. Mas já li muita coisa psicografada. Por exemplo, pelo famoso médium brasileiro, recentemente desencarnado, Xico Xavier, textos ditados pelos seus dois principais guias espirituais, Emmanuel e André Luiz. E há uma série de coisas que me incomodam sobremaneira. Por exemplo, que todos estes textos sejam abundantemente percorridos por um moralismo que, muitas vezes, me parece não exatamente errado mas demasiado primário…Que os textos de Emmanuel e André Luiz sejam, por vezes, tão semelhantes… Deveriam sê-lo? E que não consiga deixar de sentir que muitos destes textos poderiam ter sido escritos pelo próprio Xico Xavier, se ele escrevesse, já que a sua personalidade, as suas ideias e a sua forma de comunicar ficaram conhecidas…
Gostaria de ter confrontado o Prof. Raul com estas questões, que ficam aqui, em aberto, para quem se interessa por estes assuntos. De resto, gostei muito, foi um ótimo momento de fuga à nossa vida material e de convivência com a nossa verdadeira essência, a espiritual. POPEYE9700@YAHOO.COM

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