No ARION

No ARION
No oceano, em 2001, viajando entre a Terceira e S.Vicente (Cabo Verde)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

CESTO DA GÁVEA

CESTO DA GÁVEA (Março de 1999)

EM QUE SE CHORA BABA E RANHO E SE CONFESSA UMA PROFUNDA AVERSÃO PELA POLÍTICA, EM PARTE GENETICAMENTE HERDADE, MAS TAMBÉM PRECOCEMENTE ADQUIRIDA E TOTALMENTE ASSUMIDA (IRRA, TANTO ADVÉRBIO DE MODO !)


Há pouco tempo, o jornalista Armando Mendes, do Diário Insular, no cumprimento de uma das missões mais importantes do jornalismo dos nossos dias, a denúncia das situações menos claras e a responsabilização dos políticos pelas asneiras cometidas, escrevia sobre a Marina de Angra do Heroísmo. Nessa peça, actualizava a triste situação, tecia diversos comentários e solicitava explicações. Essas, nunca aparecem, porque, quando os riscos de exposição pública são elevados, os políticos, acompanhados pelos seus cortejos de burocratas, preferem remeter-se ao silêncio, neste caso, ao contrário do filme de culto, o silêncio dos culpados (“The Silence of the Wolves”). Ou então, porque, como todos sabemos, no actual Gove3rno Regional, há pessoas detentoras de elevados cargos, que são,, publica e confessadamente, inimigos figadais da Marina de Angra e são capazes de jogar no marasmo e arrastamento, a ver se a coisa pega por aí e tudo vai caindo no olvido. Mas, quem, não alinha nessa do esquecimento, é a Somague, que lá vai arrecadando milhares de contos (quanto será em euros…) para nada fazer. Eu, pelo menos, que, como funcionário público, considero pagar impostos elevadíssimos ( a sempre adiada reforma fiscal portuguesa é já uma anedota nacional), gostaria de ver o meu dinheirinho bem melhor empregue.
Bom, mas não nos dispersemos e falemos claro, que é assim que eu gosto. Este artigo é mesmo para falar mal dos políticos e dos seus partidos. Há muitos anos atrás, tinha eu os meus verdes 18 aninhos, cometi o erro de votar num partido politico mas bem depressa me arrependi. Que me desculpem a imodéstia mas, num sinal bem claro de evolução intelectual, que me deixou muito bem comigo próprio, não o voltei a fazer. Abri recentemente uma excepção, porque já não suportava determinados comportamentos, certos figurões e quis participar na mudança. Já me arrependi amargamente porque não houve, ao fim e ao cabo, mudança alguma. O povo, na sua infinita sabedoria, diz que os políticos são todos iguais e, sem tomar tal juízo á letra, cada vez me convenço mais que isso é verdade.
Há anos atrás, quando era estudante universitário em Ponta Delgada, vivi, de muito perto, o lançamento do estatuto de objector de consciência (outra anedota nacional). Considerava-me, então, um pacifista e assim continua a ser mas não me revia no ridículo espírito da lei da época, que considerava a autodefesa como uma infracção ao estatuto; ou seja, um individuo dever-se-ia deixar imolar, se fosse atacado, por ser contra a violência, Nem um cristão ultra ortodoxo conseguiria ignorar o seu instinto de sobrevivência.
Nessas circunstâncias, precisei de apoio jurídico, de preferência a título gracioso, e alguém me indicou o deputado socialista, Dr. Carlos Mendonça. Tivemos, efectivamente, uma conversa no Palácio da Conceição e, no seu término, o Dr. Carlos Mendonça disse-me qualquer coisa deste género: “Você tem uma maneira interessante de pensar, porque não vem para a política ?”. Bom, poderia ter começado ali uma promissora carreira política, juventude socialista, uma devoção canina à causa partidária e, no futuro, quem sabe, pelo menos, um lugarzinho de deputado, nem que fosse daqueles de cú. Foi há catorze anos, tinha eu vinte e quatro de idade, mas orgulho-me de ter respondido exactamente o que responderia agora, qualquer coisa como: “ Muito obrigado mas não, nunca, quero conservar sempre a minha independência de espírito e uma certa pureza nas ideias e nas práticas”. Já agora, que nos referimos a anedotas, quero contar como acabou esta história. Paguei 5 contos de rei (muito dinheiro há 14 anos) a um advogado para me fazer declarar objector de consciência e cumpri todos os preceitos legais vigentes. Mesmo assim, fui chamado para a Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, (onde, efectivamente, encontrei muitas bestas) e cumpri 16 meses. Mas ainda há mais, uns 8 anos depois de ter passado à disponibilidade, recebi uma amável cartinha da Presidência do Conselho de Ministros, comunicando-me que fora aceite como objector de consciência…Este país é giro, não é ?
Todo este arrazoado não é, de modo nenhum, só por causa da Marina de Angra. Sou, com efeito, um indefectível apoiante dessa obra ( e da Marina da Praia também) e apenas me separa dos meus amigos do Porto das Pipas, uma sensibilidade para as questões da Arqueologia Subaquática que naturalmente devo ter, por formação e profissão. A minha opinião sobre alguns dos protagonistas da intervenção arqueológica subaquática é outra história. O que se passa, no fundo, é que, para além da minha aversão da base à politica, sou um descrente desta ilha e das suas gentes. Com efeito, não há como um terceirense para empatar tudo, não saber defender-se, não ser capaz de reivindicar os seus direitos, lutar pelas suas legítimas aspirações, defender os seus interesses, , não ser capaz de se unir aos outros em torno de uma causa comum. Somos uns bananas, essa é a verdade, por isso os ananases nos trocam sempre as voltas e se ficam a rir. E depois, temos muita de uma pretensa intelectualidade, que tem as suas próprias opiniões em grande conta e que nunca contribui para que se faça algo de jeito.
O panorama actual da ilha Terceira, em termos de realizações materiais, é desolador e é assim porque nós deixamos: a Marina de Angra é uma vergonha, uma borbulha de adolescente, daquelas bem purulentas, na face deste Governo (no futebol, nestas situações, costuma dizer-se “pede para sair”); a Marina da Praia avança mas a passo de caracol porque o Porto de Pescas não anda; o porto comercial da Praia da Vitória é outra anedota, não serve para quase nada, de momento; a reparação da estrada corrente, entre Lajes e Santa Bárbara, tem avançado ao ritmo que se conhece; o mesmo se diz do prolongamento da via rápida; a etapa final do saneamento básico é extremamente lenta; a reposição da calçada nesse âmbito foi a vergonha que se sabe; do alargamento do Hotel de Angra, de preferência com recuperação do antigo hotel contíguo, tal como ele era (cuidado com os mamarrachos…) ninguém ouve falar; do novo hotel no Fanal, idem; a Quinta do Caracol para lá está, nem avança sequer ao passo do dito; o museu de Angra do Heroísmo, não há maneira de abrir a parte principal da sua exposição permanente; soterrámos as pegadas do Vasco da Gama (que nos diz mais que qualquer dinossauro) depois de muito barulho e de um ridículo concurso de ideias; ninguém percebe o que vai acontecer ao Gabinete da Cidade e nem sequer conseguimos construir uma porcaria de uma escada no Páteo da Alfândega; e de certeza que me esqueci de alguma coisa. Haja juízo, isto é areia demais para a minha camioneta. Quem acredita nesta ilha ? Pelo menos vai-se escrevendo, não falta tudo. Escrever, falar pelos cantos, polemizar bastante e festejar, isso ainda é connosco. Salve-se a Rainha das Sanjoaninas, que é bem bonita. Até à próxima.

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