O SOMBRIO SOL CATÓLICO
Heliodoro Tarcísio
Há um articulista regular do jornal “A União”, designado aqui por N., que sigo com interesse, pelo facto de o considerar uma pessoa inteligente, com conhecimentos, leituras e bagagem cultural, que escreve sobre temas interessantes. Não costuma referir-se a política, esse parente pobre da sociedade humana, o que para mim já é uma grande virtude. Contudo, não é por acaso que ele é colunista deste jornal e não de outro qualquer. Ele é também um óptimo exemplo de como mentes esclarecidas podem ser limitadas e condicionadas por convicções religiosas.
Num recente artigo, N. refere-se à obra de Hilaire Belloc e deixou-me a impressão que este autor é, provavelmente, uma sua influência de estimação. E na realidade, encontro paralelismos entre as convicções de um e outro.
Hilaire Belloc (1870-1953), foi um prolífico escritor, nascido em França mas educado em Inglaterra. Escreveu sobre temas muito diversos. Parece ter sido uma mente sagaz e abrangente mas lamentavelmente condicionada por uma, porventura, excessiva dedicação às controvérsias do Catolicismo (frequentava a missa diariamente). Até do ponto de vista socioeconómico, ele advogou o distributismo, defendendo que consistia num regresso ao sistema económico praticado na antiga Europa católica. Em resumo, Belloc parece ter-se caracterizado como um ardente promotor da ortodoxia católica e crítico de muitos elementos do mundo moderno. Uma das mais famosas frases de Belloc é “Wherever the Catholic sun does shine, there’s love and laugher and red red wine”.
Belloc reconhecia a partilha de muitas crenças e princípios teológicos entre o Islamismo e o Cristianismo mas isso servia-lhe precisamente de base para a sua perspectiva do Islamismo como uma heresia, sobretudo por não reconhecer a divindade de Jesus.
A mente de Belloc era absolutamente condicionada… Veja-se como ele criticou uma obra escrita por Webster, uma escritora contemporânea dele, que rejeitou o Cristianismo, estudou religiões orientais, aceitou o conceito hindú da paridade de todas as religiões e era fascinada pela teoria da reencarnação; embora o tenha feito, diga-se em abono da verdade, como crítica a um alegado anti-semistismo da autora, Belloc apelidou a obra de Webster de “livro lunático”.
Em suma, Belloc era uma pessoa inteligente e culta mas limitada na sua visão da vida, devido à sua atracção pela ortodoxia católica e por essa via, avesso à evolução do mundo e adepto até de um regresso ao passado, que via o Islamismo como uma mera heresia e outras perspectivas filosóficas e religiosas como lunáticas e nos deixou frases célebres, no mínimo, discutíveis.
Na realidade, o que basicamente me provocou no texto de N. foi a mais que estafada invocação da Igreja Católica perseguida, desprezada, odiada. É incontestavelmente verdade que isso aconteceu nalguns lugares e períodos da História, a começar pela própria génese do Cristianismo, no Império Romano, quando muitos dos primeiros cristãos foram, efectivamente, martirizados, o que é condenável, a todos os títulos. Mas depois do imperador Constantino ter tornado o Cristianismo a religião oficial do Estado, no início do séc. IV, esta espalhou-se rapidamente pelo mundo, como uma espécie de praga. Aos guerreiros de espada na mão, semeando a morte e a desolação, seguiam-se hordas de burel, para “consolar” as vítimas. Outras vezes eram os ratos da Igreja que numa missão “civilizadora”, abriam caminho à soldadesca, à cupidez , ambição e cobiça de exploradores, aventureiros e comerciantes. Na História da Humanidade, a Igreja foi muito mais perseguidora do que perseguida, culminando na “Santa” Inquisição que, convém relembrar, é um fenómeno recente da História. É conhecida a herança positiva do Cristianismo para o mundo. Mas não sei se alguma vez será totalmente contabilizado o estrago irremediável, provocado na civilização humana por uma religião que planeou activamente destruir tudo o que havia antes dela e que nada mais existisse senão ela dali para a frente. Culturas fascinantes, tradições milenares, sabedoria intemporal, tudo isso foi crucificado na cruz, afogado no sangue rubro do cálice. Até há bem pouco tempo, a Igreja dominava o mundo, em estreita aliança com os poderes temporais porque se proclamava fonte única e fortaleza inexpugnável da verdade, da moral e dos costumes. No nosso tempo, finalmente começámos a sacudir o jugo, as palavras de ordem são liberdade, tolerância e abertura de espírito. Até há pouco tempo, a Igreja dominava a sociedade porque a educava na estreita, limitada e rígida moral judaico-cristã e possuía muitos meios de castigar e ostracizar os prevaricadores.
O problema profundo da Igreja não é nem nunca foi ser perseguida. Alguns dos exemplos de “inimigos da Igreja”, arrolados por Belloc, pedem um comentário. O nacional-socialismo hitleriano, para além de ter sido um monstruoso mas breve episódio da História, perseguiu sobretudo o Judaísmo, não tanto a Igreja Católica em particular. E o nosso fascismo caseiro não assentava exactamente na tríade Deus, Pátria, Família ? Quanto aos regimes comunistas, realmente a dialéctica marxista-leninista pode ser encarada como inimiga da Igreja Católica, não tanto individualmente mas por preconizar o ateísmo como filosofia oficial do estado. Mas convém lembrar que a revolução bolchevique de 1917, origem do comunismo no mundo, surgiu precisamente na Rússia dos Czares, reis por direito divino e que tinham a hierarquia da Igreja (neste caso a Ortodoxa), totalmente do seu lado no domínio de um povo miserável, oprimido, faminto e quase escravizado.
O problema é que a Igreja, no mundo de hoje, já não pode catequisar à força, como sempre fez no passado. Já não consegue ir “evangelizar” os pobres nativos por esse mundo fora. E quando o faz, já não tem o exclusivo, sofre a concorrência de outras igrejas e crenças, num clima de liberdade e tolerância que detesta e a que não está habituada. E já não consegue recrutar os seus acólitos pelos meios de que antes dispunha: filhos varões de famílias numerosas que não tinham dinheiro nem onde cair mortos e que viam a carreira eclesiástica ou a das armas, como únicas saídas; filhos da nobreza que não o primogénito, sem direito a nada; filhas que não conseguiam casar, filhas a cujos pais dava mais jeito, por um ou outro motivo, enviar para um convento; mulheres escravizadas, quase sem existência legal, que serviam como moeda de troca para os mais variados fins; gente ambiciosa, que encontrava na Igreja o caminho para chegar ao poder e a uma vida rica e confortável; enfim, muita gente, sem a menor vocação mas que encontrava na Igreja um refúgio seguro, com tecto e comida, num mundo cruel para os fracos, os pobres e os desprotegidos. No mundo de hoje, a Igreja tem de SEDUZIR e aí tem falhado, cada vez mais miseravelmente. Nem é por ser velha e anquilosada, porque a Igreja Católica é jovem, convém relembrar isso, tem 2.000 anos, uma gota de água na História da Humanidade e uma caganita de pulga na história do planeta, para não ir mais longe. É porque é uma instituição fechada sobre si própria, teimosa, autoritária, intolerante, incapaz de evoluir
Uma estratégia usual da Igreja é fazer crer que o Cristianismo é BOM e o Neopaganismo é MAU. Assim mesmo, ou é preto ou é branco, sem mais nada. Eu acredito que não há religiões boas e más, que são todas formas de nós, pobres e ignorantes mortais, interpretarmos os mistérios da vida e da morte e estabelecermos, cada um ao seu jeito, mecanismos de comunicação com o divino, com o desconhecido, com o superior. Normalmente, cada religião tem associado um código de referência de valores morais e essa é uma área mais sensível porque é essencial que esse código contenha valores universais que impliquem o respeito por todas as formas de vida e pela natureza. Se a religião constituir um domínio privado, das “coisas do espírito”, uma forma pessoal e íntima de purificação e evolução espiritual, por vezes voluntariamente praticada em comunidade, então está tudo bem. Essa é uma conquista fundamental do nosso tempo, a remissão da religião para a esfera íntima de cada um. Mas isso é intolerável para a Igreja que, ainda não se recompôs do choque de já não ditar a moral colectiva. Eles que, até há tão pouco tempo, eram os intérpretes sagrados de Deus, a quem se beijava a mão, agora são simples agentes de uma corporação em decadência acelerada, muitos deles pedófilos, ainda por cima.
O Cristianismo assenta fundamentalmente nos acontecimentos de há 2.000 anos no Próximo-Oriente, na figura de Jesus e nos Dez Mandamentos. Os dogmas da fé católica, ligados à vida de Jesus, só podem ser aceites através de um exercício de fé. Sabemos que Jesus existiu mas quanto ao resto, pouco está historicamente provado e racionalmente, só podemos duvidar de tudo o que nos dizem e nesse sentido, todas as hipóteses são plausíveis. Os Dez Mandamentos constituem um código moral básico, como outros, na História das Religiões. Sobre a sua origem também não há qualquer prova histórica. Isto é uma mera constatação de facto e não um argumento irredutível de negação científica.
Quanto ao Neopaganismo, é um termo recente, que designa um conjunto heterogéneo de religiões ditas “pagãs”, como maior expressão no mundo civilizado a partir de 1970.
“A maior parte das religiões neopagãs são tentativas de reconstrução ou ressurgimento das religiões pagãs, principalmente as da antigüidade pré-cristã europeia (…) O neopaganismo é um termo referente às diversas formas de religiosidade que têm como lugar comum o encontro com o divino através da natureza . Com base no ensinamento que remonta ao Egipto Antigo, que diz que "o que está acima é como o que está abaixo e o que está abaixo é como o que está acima", os seus praticantes acreditam que a natureza dos criadores seja a mesma das suas criaturas. Os neopagãos buscam, desta feita, compreender "o que está acima" – os seus deuses - conhecendo "o que está abaixo" - a natureza e os seus semelhantes.As suas práticas envolvem a magia natural e a magia cerimonial, como também a busca da evolução através das terapias holísticas actuais” (in Neopaganismo, Wikipédia, Internet).
Os cultos pagãos estão, em muitos casos, associados ao conhecimento, tributo e respeito pelas forças da natureza. Os neopagãos estão, na verdade, borrifando-se para a moral judaico-cristã mas não têm nada de intrinsecamente MAU, tipo sacrifícios humanos. Trata-se apenas de uma forma diferente de procurar a verdade e a felicidade individual. E não pretendem acabar com o Cristianismo. Não se consideram inimigos de ninguém. Pretendem que os deixem em paz, num clima de liberdade, diversidade, ecletismo e tolerância. Tudo coisas que a Igreja Católica aprecia pouco…
Finalmente o grande problema da Igreja Católica é pensar que veio para mudar o mundo e ficar para sempre. Ora, eu acredito que, em muitas perspectivas, a Igreja não mudou o mundo para melhor. Deu o seu importante contibuto. E que nada é para sempre. Acredito que o Cristianismo é mais uma etapa no percurso da Humanidade. Mas não é a única e muito menos deve ser obrigatória e acabar com todos as outras, E creio nos valores da paz, do amor incondicional pelas pessoas e por toda a Natureza, no relativismo da verdade, na inteligência, na emoção, na abertura de espírito e na disponibilidade para evoluir e aprender. Se alguma coisa for para sempre, que seja o amor. Popeye9700@yahoo.com
Heliodoro Tarcísio
Há um articulista regular do jornal “A União”, designado aqui por N., que sigo com interesse, pelo facto de o considerar uma pessoa inteligente, com conhecimentos, leituras e bagagem cultural, que escreve sobre temas interessantes. Não costuma referir-se a política, esse parente pobre da sociedade humana, o que para mim já é uma grande virtude. Contudo, não é por acaso que ele é colunista deste jornal e não de outro qualquer. Ele é também um óptimo exemplo de como mentes esclarecidas podem ser limitadas e condicionadas por convicções religiosas.
Num recente artigo, N. refere-se à obra de Hilaire Belloc e deixou-me a impressão que este autor é, provavelmente, uma sua influência de estimação. E na realidade, encontro paralelismos entre as convicções de um e outro.
Hilaire Belloc (1870-1953), foi um prolífico escritor, nascido em França mas educado em Inglaterra. Escreveu sobre temas muito diversos. Parece ter sido uma mente sagaz e abrangente mas lamentavelmente condicionada por uma, porventura, excessiva dedicação às controvérsias do Catolicismo (frequentava a missa diariamente). Até do ponto de vista socioeconómico, ele advogou o distributismo, defendendo que consistia num regresso ao sistema económico praticado na antiga Europa católica. Em resumo, Belloc parece ter-se caracterizado como um ardente promotor da ortodoxia católica e crítico de muitos elementos do mundo moderno. Uma das mais famosas frases de Belloc é “Wherever the Catholic sun does shine, there’s love and laugher and red red wine”.
Belloc reconhecia a partilha de muitas crenças e princípios teológicos entre o Islamismo e o Cristianismo mas isso servia-lhe precisamente de base para a sua perspectiva do Islamismo como uma heresia, sobretudo por não reconhecer a divindade de Jesus.
A mente de Belloc era absolutamente condicionada… Veja-se como ele criticou uma obra escrita por Webster, uma escritora contemporânea dele, que rejeitou o Cristianismo, estudou religiões orientais, aceitou o conceito hindú da paridade de todas as religiões e era fascinada pela teoria da reencarnação; embora o tenha feito, diga-se em abono da verdade, como crítica a um alegado anti-semistismo da autora, Belloc apelidou a obra de Webster de “livro lunático”.
Em suma, Belloc era uma pessoa inteligente e culta mas limitada na sua visão da vida, devido à sua atracção pela ortodoxia católica e por essa via, avesso à evolução do mundo e adepto até de um regresso ao passado, que via o Islamismo como uma mera heresia e outras perspectivas filosóficas e religiosas como lunáticas e nos deixou frases célebres, no mínimo, discutíveis.
Na realidade, o que basicamente me provocou no texto de N. foi a mais que estafada invocação da Igreja Católica perseguida, desprezada, odiada. É incontestavelmente verdade que isso aconteceu nalguns lugares e períodos da História, a começar pela própria génese do Cristianismo, no Império Romano, quando muitos dos primeiros cristãos foram, efectivamente, martirizados, o que é condenável, a todos os títulos. Mas depois do imperador Constantino ter tornado o Cristianismo a religião oficial do Estado, no início do séc. IV, esta espalhou-se rapidamente pelo mundo, como uma espécie de praga. Aos guerreiros de espada na mão, semeando a morte e a desolação, seguiam-se hordas de burel, para “consolar” as vítimas. Outras vezes eram os ratos da Igreja que numa missão “civilizadora”, abriam caminho à soldadesca, à cupidez , ambição e cobiça de exploradores, aventureiros e comerciantes. Na História da Humanidade, a Igreja foi muito mais perseguidora do que perseguida, culminando na “Santa” Inquisição que, convém relembrar, é um fenómeno recente da História. É conhecida a herança positiva do Cristianismo para o mundo. Mas não sei se alguma vez será totalmente contabilizado o estrago irremediável, provocado na civilização humana por uma religião que planeou activamente destruir tudo o que havia antes dela e que nada mais existisse senão ela dali para a frente. Culturas fascinantes, tradições milenares, sabedoria intemporal, tudo isso foi crucificado na cruz, afogado no sangue rubro do cálice. Até há bem pouco tempo, a Igreja dominava o mundo, em estreita aliança com os poderes temporais porque se proclamava fonte única e fortaleza inexpugnável da verdade, da moral e dos costumes. No nosso tempo, finalmente começámos a sacudir o jugo, as palavras de ordem são liberdade, tolerância e abertura de espírito. Até há pouco tempo, a Igreja dominava a sociedade porque a educava na estreita, limitada e rígida moral judaico-cristã e possuía muitos meios de castigar e ostracizar os prevaricadores.
O problema profundo da Igreja não é nem nunca foi ser perseguida. Alguns dos exemplos de “inimigos da Igreja”, arrolados por Belloc, pedem um comentário. O nacional-socialismo hitleriano, para além de ter sido um monstruoso mas breve episódio da História, perseguiu sobretudo o Judaísmo, não tanto a Igreja Católica em particular. E o nosso fascismo caseiro não assentava exactamente na tríade Deus, Pátria, Família ? Quanto aos regimes comunistas, realmente a dialéctica marxista-leninista pode ser encarada como inimiga da Igreja Católica, não tanto individualmente mas por preconizar o ateísmo como filosofia oficial do estado. Mas convém lembrar que a revolução bolchevique de 1917, origem do comunismo no mundo, surgiu precisamente na Rússia dos Czares, reis por direito divino e que tinham a hierarquia da Igreja (neste caso a Ortodoxa), totalmente do seu lado no domínio de um povo miserável, oprimido, faminto e quase escravizado.
O problema é que a Igreja, no mundo de hoje, já não pode catequisar à força, como sempre fez no passado. Já não consegue ir “evangelizar” os pobres nativos por esse mundo fora. E quando o faz, já não tem o exclusivo, sofre a concorrência de outras igrejas e crenças, num clima de liberdade e tolerância que detesta e a que não está habituada. E já não consegue recrutar os seus acólitos pelos meios de que antes dispunha: filhos varões de famílias numerosas que não tinham dinheiro nem onde cair mortos e que viam a carreira eclesiástica ou a das armas, como únicas saídas; filhos da nobreza que não o primogénito, sem direito a nada; filhas que não conseguiam casar, filhas a cujos pais dava mais jeito, por um ou outro motivo, enviar para um convento; mulheres escravizadas, quase sem existência legal, que serviam como moeda de troca para os mais variados fins; gente ambiciosa, que encontrava na Igreja o caminho para chegar ao poder e a uma vida rica e confortável; enfim, muita gente, sem a menor vocação mas que encontrava na Igreja um refúgio seguro, com tecto e comida, num mundo cruel para os fracos, os pobres e os desprotegidos. No mundo de hoje, a Igreja tem de SEDUZIR e aí tem falhado, cada vez mais miseravelmente. Nem é por ser velha e anquilosada, porque a Igreja Católica é jovem, convém relembrar isso, tem 2.000 anos, uma gota de água na História da Humanidade e uma caganita de pulga na história do planeta, para não ir mais longe. É porque é uma instituição fechada sobre si própria, teimosa, autoritária, intolerante, incapaz de evoluir
Uma estratégia usual da Igreja é fazer crer que o Cristianismo é BOM e o Neopaganismo é MAU. Assim mesmo, ou é preto ou é branco, sem mais nada. Eu acredito que não há religiões boas e más, que são todas formas de nós, pobres e ignorantes mortais, interpretarmos os mistérios da vida e da morte e estabelecermos, cada um ao seu jeito, mecanismos de comunicação com o divino, com o desconhecido, com o superior. Normalmente, cada religião tem associado um código de referência de valores morais e essa é uma área mais sensível porque é essencial que esse código contenha valores universais que impliquem o respeito por todas as formas de vida e pela natureza. Se a religião constituir um domínio privado, das “coisas do espírito”, uma forma pessoal e íntima de purificação e evolução espiritual, por vezes voluntariamente praticada em comunidade, então está tudo bem. Essa é uma conquista fundamental do nosso tempo, a remissão da religião para a esfera íntima de cada um. Mas isso é intolerável para a Igreja que, ainda não se recompôs do choque de já não ditar a moral colectiva. Eles que, até há tão pouco tempo, eram os intérpretes sagrados de Deus, a quem se beijava a mão, agora são simples agentes de uma corporação em decadência acelerada, muitos deles pedófilos, ainda por cima.
O Cristianismo assenta fundamentalmente nos acontecimentos de há 2.000 anos no Próximo-Oriente, na figura de Jesus e nos Dez Mandamentos. Os dogmas da fé católica, ligados à vida de Jesus, só podem ser aceites através de um exercício de fé. Sabemos que Jesus existiu mas quanto ao resto, pouco está historicamente provado e racionalmente, só podemos duvidar de tudo o que nos dizem e nesse sentido, todas as hipóteses são plausíveis. Os Dez Mandamentos constituem um código moral básico, como outros, na História das Religiões. Sobre a sua origem também não há qualquer prova histórica. Isto é uma mera constatação de facto e não um argumento irredutível de negação científica.
Quanto ao Neopaganismo, é um termo recente, que designa um conjunto heterogéneo de religiões ditas “pagãs”, como maior expressão no mundo civilizado a partir de 1970.
“A maior parte das religiões neopagãs são tentativas de reconstrução ou ressurgimento das religiões pagãs, principalmente as da antigüidade pré-cristã europeia (…) O neopaganismo é um termo referente às diversas formas de religiosidade que têm como lugar comum o encontro com o divino através da natureza . Com base no ensinamento que remonta ao Egipto Antigo, que diz que "o que está acima é como o que está abaixo e o que está abaixo é como o que está acima", os seus praticantes acreditam que a natureza dos criadores seja a mesma das suas criaturas. Os neopagãos buscam, desta feita, compreender "o que está acima" – os seus deuses - conhecendo "o que está abaixo" - a natureza e os seus semelhantes.As suas práticas envolvem a magia natural e a magia cerimonial, como também a busca da evolução através das terapias holísticas actuais” (in Neopaganismo, Wikipédia, Internet).
Os cultos pagãos estão, em muitos casos, associados ao conhecimento, tributo e respeito pelas forças da natureza. Os neopagãos estão, na verdade, borrifando-se para a moral judaico-cristã mas não têm nada de intrinsecamente MAU, tipo sacrifícios humanos. Trata-se apenas de uma forma diferente de procurar a verdade e a felicidade individual. E não pretendem acabar com o Cristianismo. Não se consideram inimigos de ninguém. Pretendem que os deixem em paz, num clima de liberdade, diversidade, ecletismo e tolerância. Tudo coisas que a Igreja Católica aprecia pouco…
Finalmente o grande problema da Igreja Católica é pensar que veio para mudar o mundo e ficar para sempre. Ora, eu acredito que, em muitas perspectivas, a Igreja não mudou o mundo para melhor. Deu o seu importante contibuto. E que nada é para sempre. Acredito que o Cristianismo é mais uma etapa no percurso da Humanidade. Mas não é a única e muito menos deve ser obrigatória e acabar com todos as outras, E creio nos valores da paz, do amor incondicional pelas pessoas e por toda a Natureza, no relativismo da verdade, na inteligência, na emoção, na abertura de espírito e na disponibilidade para evoluir e aprender. Se alguma coisa for para sempre, que seja o amor. Popeye9700@yahoo.com
Sem comentários:
Enviar um comentário