CONSIDERAÇÕES INTEMPESTIVAS
Heliodoro Tarcísio
1. CHINA E TIBETE. O regime vigente na China actual é totalitário, antidemocrático, violento, agressivo, praticante da pena de morte e ferozmente repressivo contra todos e qualquer um que discorde das políticas seguidas. O atropelo e desrespeito pelos direitos humanos mais básicos é constante e regular. O rótulo de comunista do regime é o menos importante, pois as ditaduras sempre nasceram em todos os berços. No entanto, a China é também um dos países mais poderosos do mundo, com um peso político e económico cada vez maior. Isso decorre dos seus impressionantes quantitativos populacionais, da enorme extensão territorial, do poder económico que radica tanto na capacidade individual de trabalho como na exploração de mão de obra miserável, no recurso ao trabalho infantil e na mão de ferro do regime. Em termos de política regional, a anexação violenta do Tibete, um país pacífico único no mundo, foi um acto brutal e totalmente ilegal, à luz do direito internacional. Mas os políticos dos países mais poderosos do mundo nunca dizem nada a esse respeito. Toda a gente tem medo da China, conhecida como “o gigante adormecido” ou presta-lhe tributo como parceiro económico, membro do clube dos grandes, potência militar e líder regional. Medo, reverência e subserviência são as palavras-chave deste jogo de forças. Se não acreditam, lembrem-se da patética atitude do pobre Governo Português quando no ano passado o Dalai Lama visitou o nosso país…
A China foi também escolhida como palco dos próximos Jogos Olímpicos. Se houvesse justiça neste mundo, isso nunca poderia ter acontecido porque o regime não o merece. Mas não há justiça no mundo. Naturalmente, não confundo o povo chinês com o seu regime político totalitário. Inteligentemente, os monges budistas e o povo tibetano em geral, vítimas quase indefesas de uma tentativa de genocídio rácico e cultural, aproveitaram esta oportunidade única de visibilidade internacional, para protestar, da forma possível. O regime chinês reagiu com a sua típica agressividade mas não teve outro remédio senão ser mais comedido do que o costume. Isso porque é extremamente difícil conciliar a inevitável exposição mediática que resulta da condição de entidade organizadora dos Jogos Olímpicos com a resolução da crise como eles gostam, dentro de casa, de portas bem fechadas. Essa é a única razão porque, apesar de toda a violência que temos presenciado, a capital do Tibete não foi ainda posta a ferro e fogo e presos ou mesmo assassinados todos os activistas e os seus líderes, incluindo os monges. É porque, no contexto actual, não é possível fazer essa limpeza longe dos olhares indiscretos. Se não fosse pelos mortos, feridos e presos, seria quase cómico ouvir as acusações de “violência”, “agressividade” e “recusa de diálogo” com que as autoridades chinesas têm mimoseado o Dalai Lama. E apostaria o meu magro salário de um mês em como foram os próprios chineses a esconder armas num mosteiro tibetano…
A escolha da China como sede dos Jogos Olímpicos é a prova mais evidente da hipocrisia do mundo e dos políticos em particular. Fica aqui publicamente expressa esta minha nota de desprezo.
2. VIA RÁPIDA. A discussão recente em torno da Via Vitorino Nemésio trouxe-me à memória acontecimentos da década de 90 que vivi intensamente. Refiro-me à construção da Marina de Angra do Heroísmo. Antes disso, personalidades locais escreviam regularmente para os jornais, queixando-se que Angra vivia de costas voltadas para o mar, que não havia condições para usufruir da beira-mar, que o Pátio da Alfândega não passava de um cenário de engate gay, etc, etc. Planeada e encetada a Marina de Angra, algumas dessas personalidades vieram clamar publicamente que era muita feia, que tapava a vista do Monte Brasil (sic…) que iria retirar Angra da lista do Património Mundial, etc , etc. Tratava-se apenas de meia dúzia de gatos pingados, muito mal preparados mas mesmo assim ainda iam encalhando as obras… Sem mais comentários a este respeito, atente-se apenas no significativo lugar e impacto que têm hoje na comunidade a marina de Angra e o ordenamento posterior de todo o espaço ribeirinho.
Quanto à Via Rápida, nos últimos anos, andaram diversos terceirenses a chorar baba e ranho pelos jornais, queixando-se que a principal estrada da ilha, ligando as duas cidades não valia nada, que ia tudo para S. Miguel, que era sempre a mesma coisa na Terceira, que o alcatrão utilizado não prestava e rebentava rapidamente, que a estrada era muito insegura e causava muitos acidentes, alguns graves e mesmo mortais e especificamente o problema das vacas, onde é que já se viu, uma via rápida com vacas a circular e a atravessar de um lado para o outro, isto só em África ou na América Central, nem sequer no Brasil…que as autoridades não faziam nada… Protestavam assim na altura esses atentos cidadãos.
Pois pasme-se. Essas mesmas criaturas, que nunca estão satisfeitas e cuja principal vocação parece ser chorar baba e ranho em praça pública, saem agora a terreiro, para se queixar do quê?! Que a nova Via Rápida em construção é boa demais! Sim, senhor, palavra de honra que já me ri muito à custa disso. Ele é que a estrada é boa demais e custará uma fortuna; que vai levar um ror de tempo a acabar e entretanto aonde é que a gente vai acelerar, espetar os nossos carros e ter os nossos acidentezinhos…; que destruíram as bermas, deram cabo das hortênsias e mais outras flores e imagine-se, cortaram até umas quantas preciosas e raras criptomérias…; que fizeram desaparecer uns metros quadrados de insubstituível pasto verde; e quanto ás vacas, pois que tiveram o descaramento e a prosápia de construir nada mais que sete (!!) passagens aéreas para ruminantes, para além de planearem caminhos laterais próprios para elas…
Meus senhores e senhoras, um pouco de vergonha na cara, já que pedir um pouco de inteligência parece complicado… As passagens aéreas e caminhos próprios para as vacas são uma solução inteligente e se calhar a única exequível para tornar digna desse nome uma Via Rápida que seria uma autêntica anedota se não tivesse ceifado já muitas vidas…Se o emparcelamento rural fosse uma solução credível, ao tempo que o tentam implementar, já estaria tudo emparcelado por aí…As criptomérias, árvores estranhas ao ambiente açoriano, importadas e agressivas, não fazem cá falta nenhuma. Árvores fazem muita falta sim mas doutras espécies, nomeadamente endémicas. Hortenses, azáleas e outras flores plantam-se e crescem facilmente. Quando chega a Primavera apercebemo-nos do óptimo trabalho que tem sido feito nas bermas das nossas estradas e acontecerá o mesmo com certeza na nova Via Rápida. E uns metros quadrados de pasto são perfeitamente dispensáveis.
Quando esta obra estiver pronta, a Terceira terá finalmente uma Via Rápida digna dessa classificação e atrevo-me até a dizer que vai constituir-se em modelo de referência, na Região e não só. E esta gente vai calar-se mas até lá teremos todos de os aturar. Claro que os acidentes vão continuar na Via Rápida… Devem-se principalmente à velocidade exagerada, à incompetência e à pura e simples estupidez. E isso dificilmente terá solução.
3. ALTO DAS COVAS. Discordo das obras no Alto das Covas. Angra deve ser a única cidade europeia moderna que rouba espaço ás pessoas apeadas para o dar às pessoas motorizadas. E ainda cortam árvores pelo meio. E não são criptomérias. A tendência actual é para criar oásis livre de trânsito no centro das cidades. Em Angra fazemos precisamente ao contrário. Livres de trânsito só temos a rua da Palha e a rua da Esperança. Quanto à rua da Palha tudo bem, tem-se tornado um espaço bem agradável. A rua da Esperança é uma anedota, uma via “fechada ao trânsito” com um trânsito e estacionamento intensivos, com tudo o que é comerciante e profissional liberal a entrar e a sair com os seus automóveis a qualquer hora, a seu bel-prazer, no Verão espremendo-se pateticamente entre a montra da Agência Teles e a pequena esplanada do Café Athanásio.
No Alto das Covas, na minha opinião devia ter-se retirado há muito tempo a faixazinha manhosa que os condutores aproveitavam para estacionar. Em vez disso, foram ampliá-la, á custa de espaço pedonal e de árvores, numa zona intensamente frequentada por crianças, numa das principais escolas da cidade. O trânsito entupia ali porque os papás têm o hábito de parar os popós fora da escola para recolher os filhos. No entanto, a 5 minutos de distância a pé está um dos principais parques de estacionamento da cidade, enorme e geralmente com algum espaço livre. O problema em Angra é que as pessoas não querem andar a pé e só não estacionam o carro junto da cama porque não pode ser. Isso parece-me ter uma relação evidente embora não única com enfartes e tromboses, agora tanto em foco. Angra é uma pequena cidade, numa pequena ilha, cada vez mais saturada de automóveis e nem a actual e profunda crise económica parece diminuir essa tendência. Os conceitos culturais e os hábitos de vida demoram a alterar-se, quando se alteram. As autoridades deviam, supostamente, estar mais à frente em termos de visão. Ah mas as autoridades são basicamente políticos, de carreira ou de circunstância… E esses vêem apenas quatro anos à frente.
POPEYE9700@yahoo.com
Heliodoro Tarcísio
1. CHINA E TIBETE. O regime vigente na China actual é totalitário, antidemocrático, violento, agressivo, praticante da pena de morte e ferozmente repressivo contra todos e qualquer um que discorde das políticas seguidas. O atropelo e desrespeito pelos direitos humanos mais básicos é constante e regular. O rótulo de comunista do regime é o menos importante, pois as ditaduras sempre nasceram em todos os berços. No entanto, a China é também um dos países mais poderosos do mundo, com um peso político e económico cada vez maior. Isso decorre dos seus impressionantes quantitativos populacionais, da enorme extensão territorial, do poder económico que radica tanto na capacidade individual de trabalho como na exploração de mão de obra miserável, no recurso ao trabalho infantil e na mão de ferro do regime. Em termos de política regional, a anexação violenta do Tibete, um país pacífico único no mundo, foi um acto brutal e totalmente ilegal, à luz do direito internacional. Mas os políticos dos países mais poderosos do mundo nunca dizem nada a esse respeito. Toda a gente tem medo da China, conhecida como “o gigante adormecido” ou presta-lhe tributo como parceiro económico, membro do clube dos grandes, potência militar e líder regional. Medo, reverência e subserviência são as palavras-chave deste jogo de forças. Se não acreditam, lembrem-se da patética atitude do pobre Governo Português quando no ano passado o Dalai Lama visitou o nosso país…
A China foi também escolhida como palco dos próximos Jogos Olímpicos. Se houvesse justiça neste mundo, isso nunca poderia ter acontecido porque o regime não o merece. Mas não há justiça no mundo. Naturalmente, não confundo o povo chinês com o seu regime político totalitário. Inteligentemente, os monges budistas e o povo tibetano em geral, vítimas quase indefesas de uma tentativa de genocídio rácico e cultural, aproveitaram esta oportunidade única de visibilidade internacional, para protestar, da forma possível. O regime chinês reagiu com a sua típica agressividade mas não teve outro remédio senão ser mais comedido do que o costume. Isso porque é extremamente difícil conciliar a inevitável exposição mediática que resulta da condição de entidade organizadora dos Jogos Olímpicos com a resolução da crise como eles gostam, dentro de casa, de portas bem fechadas. Essa é a única razão porque, apesar de toda a violência que temos presenciado, a capital do Tibete não foi ainda posta a ferro e fogo e presos ou mesmo assassinados todos os activistas e os seus líderes, incluindo os monges. É porque, no contexto actual, não é possível fazer essa limpeza longe dos olhares indiscretos. Se não fosse pelos mortos, feridos e presos, seria quase cómico ouvir as acusações de “violência”, “agressividade” e “recusa de diálogo” com que as autoridades chinesas têm mimoseado o Dalai Lama. E apostaria o meu magro salário de um mês em como foram os próprios chineses a esconder armas num mosteiro tibetano…
A escolha da China como sede dos Jogos Olímpicos é a prova mais evidente da hipocrisia do mundo e dos políticos em particular. Fica aqui publicamente expressa esta minha nota de desprezo.
2. VIA RÁPIDA. A discussão recente em torno da Via Vitorino Nemésio trouxe-me à memória acontecimentos da década de 90 que vivi intensamente. Refiro-me à construção da Marina de Angra do Heroísmo. Antes disso, personalidades locais escreviam regularmente para os jornais, queixando-se que Angra vivia de costas voltadas para o mar, que não havia condições para usufruir da beira-mar, que o Pátio da Alfândega não passava de um cenário de engate gay, etc, etc. Planeada e encetada a Marina de Angra, algumas dessas personalidades vieram clamar publicamente que era muita feia, que tapava a vista do Monte Brasil (sic…) que iria retirar Angra da lista do Património Mundial, etc , etc. Tratava-se apenas de meia dúzia de gatos pingados, muito mal preparados mas mesmo assim ainda iam encalhando as obras… Sem mais comentários a este respeito, atente-se apenas no significativo lugar e impacto que têm hoje na comunidade a marina de Angra e o ordenamento posterior de todo o espaço ribeirinho.
Quanto à Via Rápida, nos últimos anos, andaram diversos terceirenses a chorar baba e ranho pelos jornais, queixando-se que a principal estrada da ilha, ligando as duas cidades não valia nada, que ia tudo para S. Miguel, que era sempre a mesma coisa na Terceira, que o alcatrão utilizado não prestava e rebentava rapidamente, que a estrada era muito insegura e causava muitos acidentes, alguns graves e mesmo mortais e especificamente o problema das vacas, onde é que já se viu, uma via rápida com vacas a circular e a atravessar de um lado para o outro, isto só em África ou na América Central, nem sequer no Brasil…que as autoridades não faziam nada… Protestavam assim na altura esses atentos cidadãos.
Pois pasme-se. Essas mesmas criaturas, que nunca estão satisfeitas e cuja principal vocação parece ser chorar baba e ranho em praça pública, saem agora a terreiro, para se queixar do quê?! Que a nova Via Rápida em construção é boa demais! Sim, senhor, palavra de honra que já me ri muito à custa disso. Ele é que a estrada é boa demais e custará uma fortuna; que vai levar um ror de tempo a acabar e entretanto aonde é que a gente vai acelerar, espetar os nossos carros e ter os nossos acidentezinhos…; que destruíram as bermas, deram cabo das hortênsias e mais outras flores e imagine-se, cortaram até umas quantas preciosas e raras criptomérias…; que fizeram desaparecer uns metros quadrados de insubstituível pasto verde; e quanto ás vacas, pois que tiveram o descaramento e a prosápia de construir nada mais que sete (!!) passagens aéreas para ruminantes, para além de planearem caminhos laterais próprios para elas…
Meus senhores e senhoras, um pouco de vergonha na cara, já que pedir um pouco de inteligência parece complicado… As passagens aéreas e caminhos próprios para as vacas são uma solução inteligente e se calhar a única exequível para tornar digna desse nome uma Via Rápida que seria uma autêntica anedota se não tivesse ceifado já muitas vidas…Se o emparcelamento rural fosse uma solução credível, ao tempo que o tentam implementar, já estaria tudo emparcelado por aí…As criptomérias, árvores estranhas ao ambiente açoriano, importadas e agressivas, não fazem cá falta nenhuma. Árvores fazem muita falta sim mas doutras espécies, nomeadamente endémicas. Hortenses, azáleas e outras flores plantam-se e crescem facilmente. Quando chega a Primavera apercebemo-nos do óptimo trabalho que tem sido feito nas bermas das nossas estradas e acontecerá o mesmo com certeza na nova Via Rápida. E uns metros quadrados de pasto são perfeitamente dispensáveis.
Quando esta obra estiver pronta, a Terceira terá finalmente uma Via Rápida digna dessa classificação e atrevo-me até a dizer que vai constituir-se em modelo de referência, na Região e não só. E esta gente vai calar-se mas até lá teremos todos de os aturar. Claro que os acidentes vão continuar na Via Rápida… Devem-se principalmente à velocidade exagerada, à incompetência e à pura e simples estupidez. E isso dificilmente terá solução.
3. ALTO DAS COVAS. Discordo das obras no Alto das Covas. Angra deve ser a única cidade europeia moderna que rouba espaço ás pessoas apeadas para o dar às pessoas motorizadas. E ainda cortam árvores pelo meio. E não são criptomérias. A tendência actual é para criar oásis livre de trânsito no centro das cidades. Em Angra fazemos precisamente ao contrário. Livres de trânsito só temos a rua da Palha e a rua da Esperança. Quanto à rua da Palha tudo bem, tem-se tornado um espaço bem agradável. A rua da Esperança é uma anedota, uma via “fechada ao trânsito” com um trânsito e estacionamento intensivos, com tudo o que é comerciante e profissional liberal a entrar e a sair com os seus automóveis a qualquer hora, a seu bel-prazer, no Verão espremendo-se pateticamente entre a montra da Agência Teles e a pequena esplanada do Café Athanásio.
No Alto das Covas, na minha opinião devia ter-se retirado há muito tempo a faixazinha manhosa que os condutores aproveitavam para estacionar. Em vez disso, foram ampliá-la, á custa de espaço pedonal e de árvores, numa zona intensamente frequentada por crianças, numa das principais escolas da cidade. O trânsito entupia ali porque os papás têm o hábito de parar os popós fora da escola para recolher os filhos. No entanto, a 5 minutos de distância a pé está um dos principais parques de estacionamento da cidade, enorme e geralmente com algum espaço livre. O problema em Angra é que as pessoas não querem andar a pé e só não estacionam o carro junto da cama porque não pode ser. Isso parece-me ter uma relação evidente embora não única com enfartes e tromboses, agora tanto em foco. Angra é uma pequena cidade, numa pequena ilha, cada vez mais saturada de automóveis e nem a actual e profunda crise económica parece diminuir essa tendência. Os conceitos culturais e os hábitos de vida demoram a alterar-se, quando se alteram. As autoridades deviam, supostamente, estar mais à frente em termos de visão. Ah mas as autoridades são basicamente políticos, de carreira ou de circunstância… E esses vêem apenas quatro anos à frente.
POPEYE9700@yahoo.com
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